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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Toxinas no Dia a Dia


Susan começa o dia correndo pelas ruas da cidade, cortando caminho por um milharal para tomar um chá de ervas no centro e voltando para casa para um banho. Isso soa como uma rotina matutina saudável, mas ela está de fato se expondo a uma galeria perigosa de produtos químicos: pesticidas e herbicidas no milho, plastificantes no seu copo de chá e uma ampla gama de ingredientes usados para perfumar seu sabonete e aumentar a eficiência de seu xampu e condicionador. 

A maioria dessas exposições é baixa o suficiente para ser considerada trivial. Mas elas não são desprezíveis de forma alguma, em especial porque Susan está grávida de seis semanas. Cientistas estão cada vez mais preocupados com o fato de que até mesmo níveis extremamente reduzidos de alguns poluentes ambientais podem ter efeitos danosos significativos no nosso organismo. Alguns dos produtos químicos que estão à nossa volta têm a habilidade de interferir com o sistema endócrino, responsável pela regulação dos hormônios que controlam peso, biorritmo e reprodução. Hormônios sintéticos são usados clinicamente para evitar a gravidez, controlar os níveis de insulina em diabéticos, compensar uma glândula tiroide deficiente_ e aliviar sintomas da menopausa. Você não pensaria em tomar essas drogas sem uma prescrição médica, mas, sem saber, fazemos algo semelhante todos os dias. 

Um número crescente de médicos e cientistas está se convencendo de que essas exposições a produtos químicos contribuem para a obesidade, endometriose, diabete, autismo, alergias, câncer e outras doenças. 

Estudos em laboratório – principalmente com ratos, mas também em humanos – têm demonstrado que níveis baixos de produtos químicos que interrompem o sistema endócrino induzem a mudanças sutis no feto em desenvolvimento, o que acaba tendo efeitos profundos na saúde durante a vida adulta e até em gerações posteriores. Os produtos químicos que uma grávida consome durante o curso de um dia típico podem afetar seus fi lhos e seus netos. Isso não é apenas um experimento de laboratório: vivemos isso. Muitos de nós,_nascidos nos anos 1950, 1960 e 1970, fomos expostos no útero ao dietilestilbestrol, ou DES, um estrógeno sintético prescrito a mulheres grávidas em uma tentativa equivocada de evitar abortos espontâneos. 

Um artigo na edição de junho do New England Journal of Medicine chamou de “impactantes” as lições aprendidas a respeito do efeito na vida adulta da exposição de fetos humanos ao DES. Nos_Estados Unidos, duas agências federais, a_Food and Drug Administration (Agência de Alimentos e Drogas) e a Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental), são responsáveis por banir produtos químicos perigosos e assegurar que produtos químicos presentes em nossa alimentação e medicamentos foram amplamente testados. 

Cientistas e médicos americanos de diversas especialidades estão preocupados. Para eles os esforços das duas agências são insuficientes diante do complexo coquetel de produtos químicos no ambiente. Atualizando uma proposta de 2010, o senador Frank R. Lautenberg, de_Nova Jersey, propôs uma legislação este ano para criar o Safe Chemicals Act (Ato dos Produtos Químicos Seguros) de 2011. Se aprovado, as companhias químicas seriam obrigadas a demonstrar a segurança de seus produtos antes de comercializá-los. Isso é perfeitamente lógico, mas requer um programa de rastreamento e teste próprio para produtos que prejudicam o sistema endócrino. 

A necessidade desses testes foi reconhecida há mais de uma década, mas ninguém ainda elaborou um protocolo que funcione. 

Os legisladores também não podem interpretar a crescente evidência de estudos de laboratório, muitos deles com técnicas e métodos de análises impossíveis de imaginar quando os testes toxicológicos foram desenvolvidos nos anos 1950. É como fornecer a um criador de cavalos informações de sequência genética de cinco garanhões e pedir a ele ou ela que escolham o melhor cavalo. Interpretar os dados exigiria uma ampla gama de experiência clínica e científica. Por isso sociedades profissionais representando mais de 40 mil cientistas escreveram uma carta para o FDA e o EPA oferecendo seu conhecimento. As agências deveriam aceitá-lo. Cientistas acadêmicos e médicos precisam de um lugar à mesa com o governo e cientistas da indústria. Devemos isso a mães de toda parte, que querem dar a seus filhos a melhor chance de se tornarem adultos saudáveis.

Patricia Hunt Patricia Hunt é professora de genética da School of Molecular Biosciences da
Washington State University, Pullman. (Scientific American Br)

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