Susan começa o dia correndo pelas ruas da cidade, cortando caminho
por um milharal para tomar um chá de ervas no centro e voltando para casa para
um banho. Isso soa como uma rotina matutina saudável, mas ela está de fato se
expondo a uma galeria perigosa de produtos químicos: pesticidas e herbicidas no
milho, plastificantes no seu copo de chá e uma ampla gama de ingredientes
usados para perfumar seu sabonete e aumentar a eficiência de seu xampu e
condicionador.
A maioria dessas exposições é baixa o suficiente para ser
considerada trivial. Mas elas não são desprezíveis de forma alguma, em especial
porque Susan está grávida de seis semanas. Cientistas estão cada vez mais
preocupados com o fato de que até mesmo níveis extremamente reduzidos de alguns
poluentes ambientais podem ter efeitos danosos significativos no nosso
organismo. Alguns dos produtos químicos que estão à nossa volta têm a habilidade
de interferir com o sistema endócrino, responsável pela regulação dos hormônios
que controlam peso, biorritmo e reprodução. Hormônios sintéticos são usados
clinicamente para evitar a gravidez, controlar os níveis de insulina em
diabéticos, compensar uma glândula tiroide deficiente_ e aliviar sintomas da
menopausa. Você não pensaria em tomar essas drogas sem uma prescrição médica,
mas, sem saber, fazemos algo semelhante todos os dias.
Um
número crescente de médicos e cientistas está se convencendo de que essas
exposições a produtos químicos contribuem para a obesidade, endometriose,
diabete, autismo, alergias, câncer e outras doenças.
Estudos em laboratório –
principalmente com ratos, mas também em humanos – têm demonstrado que níveis
baixos de produtos químicos que interrompem o sistema endócrino induzem a
mudanças sutis no feto em desenvolvimento, o que acaba tendo efeitos profundos
na saúde durante a vida adulta e até em gerações posteriores. Os
produtos químicos que uma grávida consome durante o curso de um dia típico
podem afetar seus fi lhos e seus netos. Isso não é apenas um experimento de
laboratório: vivemos isso. Muitos de nós,_nascidos nos anos 1950, 1960 e 1970,
fomos expostos no útero ao dietilestilbestrol, ou DES, um estrógeno sintético
prescrito a mulheres grávidas em uma tentativa equivocada de evitar abortos
espontâneos.
Um artigo na edição de junho do New England Journal of Medicine
chamou de “impactantes” as lições aprendidas a respeito do efeito na vida
adulta da exposição de fetos humanos ao DES. Nos_Estados Unidos, duas
agências federais, a_Food and Drug Administration (Agência de Alimentos e
Drogas) e a Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental),
são responsáveis por banir produtos químicos perigosos e assegurar que produtos
químicos presentes em nossa alimentação e medicamentos foram amplamente
testados.
Cientistas e médicos americanos de diversas especialidades
estão preocupados. Para eles os esforços das duas agências são insuficientes
diante do complexo coquetel de produtos químicos no ambiente. Atualizando uma
proposta de 2010, o senador Frank R. Lautenberg, de_Nova Jersey, propôs uma
legislação este ano para criar o Safe Chemicals Act (Ato dos Produtos Químicos
Seguros) de 2011. Se aprovado, as companhias químicas seriam obrigadas a
demonstrar a segurança de seus produtos antes de comercializá-los. Isso é
perfeitamente lógico, mas requer um programa de rastreamento e teste próprio
para produtos que prejudicam o sistema endócrino.
A necessidade desses testes
foi reconhecida há mais de uma década, mas ninguém ainda elaborou um protocolo
que funcione.
Os legisladores também não podem interpretar a crescente
evidência de estudos de laboratório, muitos deles com técnicas e métodos de
análises impossíveis de imaginar quando os testes toxicológicos foram
desenvolvidos nos anos 1950. É como fornecer a um criador de cavalos
informações de sequência genética de cinco garanhões e pedir a ele ou ela que
escolham o melhor cavalo. Interpretar os dados exigiria uma ampla gama de
experiência clínica e científica. Por isso sociedades profissionais
representando mais de 40 mil cientistas escreveram uma carta para o FDA e o EPA
oferecendo seu conhecimento. As agências deveriam aceitá-lo. Cientistas
acadêmicos e médicos precisam de um lugar à mesa com o governo e cientistas da
indústria. Devemos isso a mães de toda parte, que querem dar a seus filhos a
melhor chance de se tornarem adultos saudáveis.
Patricia Hunt Patricia Hunt é professora de genética da
School of Molecular Biosciences da
Washington State University, Pullman. (Scientific American Br)
Washington State University, Pullman. (Scientific American Br)
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