Miragens não são alucinações e podemos fotografá-las
(alucinações, claro, não podem ser fotografadas).
Miragens se formam porque o índice de refração do ar
varia com sua densidade e a densidade varia com a temperatura: quando a
pressão é constante, quanto mais quente o ar, menor sua densidade e menor,
também, seu índice de refração. Assim, um feixe de luz que atravessar
regiões com diferentes temperaturas e, portanto, com diferentes
índices de refração, poderá não seguir uma linha reta.
Em um dia ensolarado, o ar próximo ao asfalto quente
estará mais rarefeito e, portanto, terá um índice de refração menor
que o do ar mais afastado, mais frio. Um feixe de luz que se
dirige ao solo passará de camadas de ar mais frias para camadas
cada vez mais quentes.
Basta lembrar da lei de Snell para concluir que
o raio de luz se curvará na direção do meio de maior índice de
refração, no caso o ar mais frio. Essa trajetória curva na
direção do ar mais frio continuará durante todo o percurso do raio de luz.
Esse efeito é ilustrado pela linha verde contínua da figura, para um raio
de luz que segue a direção da flecha. Qual será nossa interpretação ao
recebermos a luz que viajou pela linha curva da figura? Sempre que vemos
alguma coisa, supomos que a luz tenha caminhado por uma direção reta, sem
curvas. Nosso cérebro está tão acostumado com essa interpretação
que atribuirá àquela luz o percurso retilíneo indicado pela linha
pontilhada, diferente daquele que ela realmente fez. Portanto,
pensamos que a luz veio de um objeto que está abaixo do nível do chão.
Assim, se olhamos para a frente, vemos a árvore; se
olhamos para o chão, vemos também a árvore, mas de ponta-cabeça. A
combinação disso, em nosso cérebro, dá a impressão de que a imagem da
árvore foi refletida no chão, como se houvesse uma poça de água.
A figura ilustrativa não está na proporção real: para que
uma miragem como essa seja formada é necessário que o objeto
esteja bem distante, várias centenas de metros adiante. A imagem
formada também não é tão nítida como a figura pode sugerir, pois o ar não
está parado, tanto pelo vento quanto pela convecção. Assim, a imagem
adquire uma aparência instável, trêmula, simulando ainda melhor o que
ocorreria se houvesse, de fato, uma poça de água. Miragens como essa são formadas quando a temperatura do
ar varia de vários graus célsius por metro, o que só ocorre em
dias bem ensolarados e com solo seco, que possa se aquecer muito.
Quando a variação de temperatura é menor que 5oC
por metro, é muito difícil se formar uma miragem.
Essa miragem é a mais comum em países como o nosso,
frequentemente vista nas longas retas das estradas em dias
ensolarados, e são chamadas de miragens inferiores, pois são vistas
abaixo da posição do objeto. Mas existem muitas outras miragens.
Uma delas é a miragem superior, em que um objeto
escondido pela curvatura da Terra, por estar além da linha
do horizonte, pode ser visto acima dele.
Miragens miragens superiores, são formadas quando
o ar próximo ao solo está mais frio que o ar nas regiões mais
elevadas. Nesse caso, um raio de luz, como na miragem inferior,
segue por um caminho curvo voltado para a região de maior índice
de refração, portanto do ar mais frio, aquele que está mais próximo
do solo.
Você encontrará na rede de computadores muitas
fotografias e figuras ilustrativas de miragens de vários tipos, algumas
delas bastante raras.
Miragens superiores são mais raras porque normalmente a temperatura do ar na troposfera é tão menor quanto maior a altitude: usualmente, há uma redução de cerca de 1oC para cada cerca de 150 metros de ascensão. Entretanto, em certas condições, pode haver uma mudança dessa regra, chamada de inversão térmica, e a temperatura aumenta com a altitude. Miragens superiores ocorrem apenas em regiões muito frias, mais próximas dos polos. Essas miragens talvez estejam na origem das lendas náuticas dos navios voadores e de muitos óvnis criados, por exemplo, por luzes escondidas além do horizonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário